quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Professora com deficiência visual adota a corrida e perde medidas

Maria Inêz, de 42 anos, tem uma doença chamada retinose pigmentar.
Com a ajuda de uma professora, ela corre e caminha quase todos os dias.

Mariana PalmaDo G1, em São Paulo
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Maria Inêz tem 42 anos e sofre com a retinose pigmentar desde os 9 anos (Foto: Arquivo pessoal)Maria Inêz tem 42 anos e sofre com a retinose
pigmentar desde os 9 anos (Foto: Arquivo pessoal)
Mesmo sendo portadora de deficiência visual, Maria Inêz Vasconcelos da Silva, de 42 anos, faz questão de exercitar o corpo e correr quase todos os dias. A professora de Ilha Solteira, no interior de São Paulo, tem retinose pigmentar, doença genética que causa degeneração da retina.
“Descobri a doença aos 9 anos de idade, quando meus pais me levaram ao médico para ver se eu tinha algum problema porque eu conversava muito na sala de aula”, lembra.
Segundo o oftalmologista Samir Bechara, a retinose pigmentar pode ficar estagnada ou pode progredir e deixa a visão muito limitada, mas não chega a causar cegueira total. No caso de Maria Inêz, a perda da visão foi aumentando e, atualmente, ela tem menos de 10% em apenas um dos olhos. Além disso, ela tem dificuldades para enxergar à noite, fator também característico da doença.
Mesmo com a deficiência, Maria Inêz é uma pessoa independente e bastante ativa. Com a ajuda de uma professora, ela corre quase diariamente e participa de jogos e corridas na cidade. “Eu fazia exercício físico, mas quando minha visão piorou, parei e engordei. Voltei a praticar há três anos e já emagreci e perdi medidas”, conta.
Ao contrário da maioria das pessoas, Maria Inêz corre no estádio da cidade porque, segundo sua professora, é um local mais seguro e livre de carros. “Começamos fazendo caminhada e, como eu sabia que a pista não ia mudar, passei a confiar mais no caminho”, diz. Além dos quilos e medidas a menos, ela também teve melhora nas dores que tinha nas pernas e na coluna. “Meu corpo mudou, agora não sinto mais nada”, avalia.
Com a corrida e a caminhada, ela diminuiu as dores no corpo e perdeu medidas (Foto: Arquivo pessoal)Com a corrida e a caminhada, ela diminuiu as dores no corpo e perdeu medidas (Foto: Arquivo pessoal)
A baixa de visão também não atrapalha sua vida profissional. Atualmente, ela é professora readaptada e coordenadora de uma escola, onde trabalha na área de educação de crianças com deficiências ou necessidades especiais.
“Eu fui professora de 1ª série por 8 anos, mas quando perdi boa parte da visão, me transferiram para a secretaria da escola e isso foi muito difícil. Eu adorava estar na sala de aula”, lembra.
Aceitar a limitação visual foi uma das dificuldades para ela. “Professor tem valor quando está dentro da sala de aula. Eu tinha consciência de que podia prejudicar meus alunos porque não conseguia mais enxergar os lápis e nem as canetas”, avalia. Mas a força de vontade sempre foi grande e Maria Inêz continuou estudando para crescer profissionalmente e ajudar também outras pessoas. “Atualmente, participo de um projeto que atende deficientes visuais adolescentes e dou orientação de mobilidade para eles”.
Dentro de sua casa, onde mora com o marido a filha de 12 anos, a independência é ainda maior. “Tenho total domínio do espaço na minha casa e na escola, onde trabalho há 16 anos”, diz. Ela domina mais ainda a cozinha e não tem receio de se arriscar no preparo das refeições. “Faço muitas coisas cozidas e grelhadas. Além disso, não uso muita gordura e não faço fritura há mais de 3 meses”, conta.
Às vezes, bate uma depressão, mas eu tento me manter para cima"
Maria Inêz Vasconcelos da Silva
A preocupação com a saúde envolve toda a família e o alto astral de Maria Inêz mostra seu poder para superar suas limitações e dificuldades. “Às vezes, bate uma depressão, mas eu tento me manter para cima. Eu sei que não tem mais o que fazer com a doença, então só me resta esperar algum estudo”, diz.
De acordo com o oftalmologista Bechara, existem estudos sobre o tratamento genético e a prevenção da retinose pigmentar, mas ainda não comprovados. O que os médicos fazem atualmente é usar lentes especiais para melhorar a visão, tratando a consequência e não a causa.
Enquanto isso, Maria Inêz continua lutando e se provando a todo o momento, como ela mesma diz. “A doença atrapalhou um pouco meu crescimento, mas eu acho que soube lidar e me dei bem”, avalia. “Acho que nós, deficientes visuais, temos direito de participar da vida social e profissional. Não podemos deixar nossas limitações nos atrapalharem”, conclui.
Maria Inêz ganhou medalhas em corridas que participou em Ilha Solteira (Foto: Arquivo pessoal)Maria Inêz ganhou medalhas em corridas que participou em Ilha Solteira (Foto: Arquivo pessoal)

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